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Foto do escritorrosana machado

A psicologia tradicional e a nova psicologia




A psicologia é a ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento.

Compreendemos por comportamento a expressão vivencial que é motivada por um estímulo.

Muitos são os enfoques, escolas, paradigmas e metodologias que compõe a psicologia.


Então, poderíamos falar das psicologias concorrentes e que apresentam profundas divergências entre si. Em comum a cada uma delas é refletir sobre o homem, seus anseios e buscas.

Atualmente, podemos ampliar esta reflexão para quem é o Ser, de onde ele vem e qual é esta jornada.

A palavra psique significa alma e durante alguns séculos o que poderia ser entendido como o estudo da alma foi interpretado como o estudo do psiquismo dissociando do espírito.


“A onda do materialismo que dominou as mentes no final do século XIX deixou marcas no campo da psicologia, que naquela época começava a ganhar autonomia científica”.

Jung

Ainda no final do século XIX, Freud ao estudar a dinâmica da histeria com Breuer, rompeu com a visão supersticiosa que envolvia as experiências emocionais. Ele percebeu que a causa da histeria não eram os demônios, magia negra, hereditariedade, intenção ou fingimento da pessoa, mas, desejos reprimidos.

Freud é o pai da psicanálise. Foi ele quem sistematizou o aparelho psíquico em três partes ou regiões, a saber: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente que, segundo o autor não são localizáveis no sistema nervoso central. Atualmente, através da visão integral de saúde, esta afirmação é discutível. Ou seja, somos biopsicossocioespiritual e o que não foi conhecido em uma determinada época pode ser compreendido posteriormente.

Freud, assim como homens e mulheres notáveis contribuíram com a ciência e com a psicologia. O materialismo esteve presente influenciando as pesquisas e as teorias desenvolvidas. Esses conceitos auxiliaram na compreensão dos mecanismos psíquicos. Esta produção de conhecimentos podem ser compreendidas como correntes de pensamentos, denominadas forças, que são:

1ª Força: Psicologia Comportamental – criada por John B. Watson. Reformulou os conceitos de consciência e imaginação, negando o valor da introspecção. Watson rejeitou tudo o que não pudesse ser mensurável, replicável ou observável em laboratório. Segundo ele, somente o comportamento manifesto era possível de ser validado cientificamente. Os estudos posteriores demonstraram que essa postura não era correta em alguns aspectos, mesmo assim os estudos de Watson foram determinantes para a expansão da psicologia.

2ª Força: Psicanálise – criada por Sigmund Freud, o estudo psicanalítico focaliza principalmente a patologia e a angústia como inerente a condição humana. Freud teve muitos seguidores e seus postulados sobre a psique continuam válidos e dão suporte às outras escolas que se desenvolveram. Freud também teve dissidentes que evidenciaram outros aspectos importantes da psique humana dos quais ele discordou. Por exemplo: Jung.

3ª Força: Psicologia Humanista – surgiu nos Estados Unidos e na Europa, na década de 50. São contrários a Comportamental. A visão do Ser Humano é a da criatividade como uma expressão do homem, assim como, a capacidade de auto-reflexão, decisões, escolhas e valores. Considera que muitas vezes adoecemos por bloquearmos aspectos saudáveis do nosso eu. Para Maslow, Freud se deteve na miséria e na doença humana não considerando elementos saudáveis que dão sentido e beleza à vida.

4ª Força: Psicologia Transpessoal – a partir das idéias da psicologia humanista surgiu a 4ª força. Maslow acreditava que vivenciar o aspecto transcendente era importante e crucial em nossas vidas. Pensar de forma holística transcendendo dualidades como certo, errado, bem ou mal, passado, presente ou futuro é fundamental. Ele declarava que sem o transcendente ficaríamos doentes, violentos, apáticos e vazios de esperança. Na segunda edição do livro (Introdução A Psicologia Do Ser) Maslow anuncia o aparecimento da 4ª força em psicologia – para além dos interesses personalizados, mais elevada e centrada no cosmo. Em 1968, ele concluiu: “considero a Psicologia Humanista, a Psicologia da 3ª Força, transitória, uma preparação para a Quarta Psicologia ainda “mais forte”, transpessoal, transumana, centrada no cosmos e não em necessidades e nos interesses humanos, que vai além da condição humana, da identidade, da auto-realização, etc”. Algo maior do que somos e que seja respeitado por nós, e ao qual nos entregamos num novo sentido não materialista. Vitor Frankl, Stanislav Grof, James Fadiman e Antony Sutich uniram-se a Maslow e oficializaram em 1968, a Psicologia Transpessoal, enfocando o estudo da consciência e o reconhecimento dos significados das dimensões da psique. Esse evento foi anunciado por Antony Sutich, em seu artigo Transpersonal Psycology.

Portanto a psicologia transpessoal surgiu nos anos 60 em resposta ao fato de que os principais modelos precedentes, fossem limitados em seu reconhecimento dos níveis superiores de desenvolvimento psicológico. Motivações e comportamentos voltados à autorealização e à autotranscendência, e até a possibilidade de se atingirem esses objetivos, não podiam ter reconhecida a sua validade nas correntes anteriores, muito embora as psicologias não-ocidentais contivessem detalhadas descrições deles. As obras completas de Freud contêm mais de quatrocentas referências à neurose e nenhuma à saúde. Por essas razões, alegava-se que os modelos comportamentalista e psicanalítico, embora tivessem dado grandes contribuições, também produziram certas limitações para a psicologia e para os nossos conceitos de natureza humana. O modelo transpessoal incorpora áreas que vão além das concepções comuns do comportamentalismo, da psicanálise, e da psicologia humanista. Mas, não é toda “a verdade”, e sim um quadro mais amplo do que os anteriores, devendo evoluir como todos os modelos.

Podemos conceituar a psicologia transpessoal como “o estudo e aplicação dos diferentes níveis de consciência à unidade fundamental do ser. A visão de mundo, na transpessoal, é a de um todo integrado, em harmonia, onde tudo é energia, formando uma rede de inter-relações de todos os sistemas existentes no universo”. (Saldanha, 2008).

A psicologia transpessoal tem como objeto de estudo os estados de consciência que transcendem a pessoa além do conceito de ego. É a escola de psicologia que pesquisa num nível científico a espiritualidade. Entretanto, é importante frisar que a Psicologia Transpessoal não é parapsicologia, nem religião, apesar de se interessar e investigar quando necessário estes aspectos e contextos da experiência humana.

A psicologia transpessoal está voltada para a expansão do campo de pesquisa psicológica a fim de incluir o estudo da saúde e do bem estar psicológico ótimos. Ela reconhece o potencial da vivência de uma ampla gama de estados de consciência, em alguns dos quais a identidade pode estender-se para além dos limites usuais do ego e da personalidade.

Pierre Weil, importante psicólogo francês radicado no Brasil desde a década de 50, postula alguns princípios epistemológicos que fundamentam a Psicologia Transpessoal.

*Existem sistemas energéticos inacessíveis aos nossos cinco sentidos, mas registráveis por outros sentidos. *Tudo na natureza se transforma e a energia que a compõe é eterna. * A vida começa antes do nascimento e continua depois da morte física. *A vida mental e espiritual forma um sistema suscetível de se desligar do corpo físico. *A evolução obtida durante a existência individual continua depois da morte física. *A consciência é energia, que é vida, no sentido mais amplo: não apenas a vida biológica, física, mas também a da natureza, do Espírito, a vida-energia, infinita nas suas mais diferentes expressões.

A psicologia transpessoal leva em consideração todo o Ser Humano como um ser único, que jamais pode ser comparado com outro Ser Humano. Considera o indivíduo e os grupos a que ele pertence. Devido à sua atitude abrangente e à sua natureza transpessoal, não nos leva a pensar que estejamos em condição de superioridade ou acima das outras pessoas. Podemos respeitar nossos desejos e empregar nosso potencial, mas não à custa dos outros. A psicologia transpessoal não avalia com rigidez nem rotula as pessoas.

Considera que estamos em constante crescimento. Essa perspectiva auxilia-nos a restituir sentido e valor à vida, e ajuda-nos a determinar o que somos e o que desejamos. Também pode contribuir para a percepção de nossas responsabilidades pessoais e para com o mundo como um todo. Pode acrescentar um sentido de personalidade dinâmico ao momento presente e a sensação de sentido à nossa existência e ao nosso futuro.

No mundo moderno, muitas pessoas sofrem de uma ou de ambas as principais crises atuais. Primeiramente, existe a “crise do sentido da vida”. Em especial no Ocidente, mas se proliferando por todo o planeta, muitos vivem num vazio existencial, a vida não apresenta um sentido (além do puramente material). A psicologia transpessoal contribui para a cura dessa enfermidade. A segunda crise é a da dualidade – não nos percebemos como entidades completas e únicas, estamos constantemente divididos entre diversos desejos e vontades. Vivemos nos comparando com outras pessoas ou situações numa atitude dualista. A psicoterapia transpessoal atuam na cura desta crise ao nos direcionar à harmonia e ao equilíbrio essenciais.

As análises ou psicoterapias convencionais oferecem um método de acompanhamento que alcançam, na maioria das vezes, o alívio dos sintomas, as mudanças de comportamento e a redução de desconforto emocional. Na psicoterapia transpessoal a conscientização sobre a natureza e influências na expressão do Ser, bem como o desenvolvimento das potencialidades oferecendo estímulos para que a pessoa viabilize promovendo o autodesenvolvimento.

O olhar integral, assim como, mapear os vários papéis que desempenhamos em nosso cotidiano, com a visão de que somos multidimensionais é uma nova compreensão na psicologia, que vem se desenvolvendo observando que muitas desordens apresentam sua causa na dimensão espiritual. Essa nova psicologia pode ser nomeada como a Psicologia da Alma. Está sendo influenciada pelo movimento transpessoal e pela Psicologia Espírita.

A integração da dimensão espiritual possibilita um enorme alcance na Psicologia em relação à essência do Ser que preexiste e sobrevive à morte. Nesta compreensão as vivências místicas e mediúnicas deixam de ser consideradas patológicas e revelam novas formas de perceber, e de se relacionar com a vida.

Existe uma conexão entre as forças do conhecimento que embasam o nosso atual momento e que a partir dessas discussões desmistificam e promovem novos conceitos. Aqui destacamos:

– A dimensão espiritual do ser, antes atributo exclusivo das religiões; – Os estados ampliados da consciência; – Os níveis de consciência, partindo do estado de sono até a consciência cósmica; – As experiências de vidas passadas e de quase morte; – Os traços de personalidade considerando a vivência intra-uterina; – Os estados mediúnicos vistos como manifestações de diferentes estados, não mais como patologia.

Existe um diálogo profundo entre a visão transpessoal e a Psicologia Espírita que se apóiam e concordam em muitos aspectos da análise do ser espiritual. A imortabilidade da alma, a comunicabilidade dos espíritos, a crença em Deus e a evolução do princípio espiritual são aspectos considerados pelas duas correntes do pensamento. A Psicologia Transpessoal deu uma grande contribuição ao aceitar a existência do espírito e todas as implicações que decorrem a partir desta contribuição. Como por exemplo: aceitar os fenômenos com a compreensão que não podem ser comprovados através da matéria, não é mensurável, mas podem-se observar seus efeitos.

A Psicologia Espírita por sua vez, abarca as experiências, inclusive a comportamental, elucidando a causa dos conflitos e sofrimentos através das várias existências do Espírito. Para os psicólogos espíritas Joanna de Angelis é considerada mentora espiritual da Psicologia Transpessoal. Ela é autora dos livros psicografados por Divaldo Franco. Durante os anos 90, coincidindo com a estruturação da série psicológica de Joanna de Angelis, os estudos do neurocientista norte americano Michael Persiger e posteriormente também do neurocientista Vilayanur Ramachandran, indiano radicado nos EUA, apresentaram evidências científicas da análise de Jung e de Joanna de Angelis, quando observaram a existência de um ponto divino no cérebro humano.

Esses estudos serviram como base para estabelecer que possuímos inteligência cognitiva, emocional, sensorial e existe uma Inteligência espiritual. É através dela que nos curamos e nos tornamos plenos; um todo integrado; um Ser Integral; em contato com o Sagrado. Curar significa cuidar. Deste modo, somos todos curadores, somos todos cuidadores.

Para que encontremos o Divino acessando nossa inteligência espiritual precisamos nos desenvolver em todos os aspectos, inclusive em nossas atitudes e emoções, pois elas determinarão a qualidade das nossas experiências na vida.

Ou seja, para amar é necessário aprender a se conhecer, pois, o ser humano é um conjunto harmônico de energias que constituem o Espírito e a matéria. O nosso estado energético (leitura dos chakras) determina nosso estado de consciência, assim como a nossa vontade influência o nosso campo energético.

Interiorizar-se cada vez mais, sem perder o contato com o mundo físico e social, deve ser a proposta equilibrada de quem busca um sentido Verdadeiro à existência. Esta é a visão da Psicologia da Alma. Ela compreende que nos conectamos com o Plano Sutil. Tem o amor e a verdade como sua base de trabalho e o entendimento da vida em plenitude, pois, este é um estado de consciência alcançado quando estamos em harmonia. Não é estagnado, mas sim dinâmico como o Ser.

Sua metodologia inclui a intuição, a disciplina o estudo. A alma é vista como parte integrante do Ser que está em evolução constante. Assim como há compreensão da conexão com o Universo, com o Sagrado em interações percebidas através da intuição e afetivamente na natureza e nas expressões criativas como na arte e no amor.

A Nova Psicologia surge apoiada numa concepção holística e sistêmica que considera o organismo humano como um todo integrado. Desta maneira, podemos conceber o homem como um ser multidimensional e a psique como um sistema dinâmico que experimenta uma variedade de fenômenos relacionados ao crescimento constante em sua jornada.

A psique apresenta uma inteligência intrínseca que, neste processo, ao acessar o seu potencial verdadeiro nos direciona à autotranscendência. Porém, pode nos levar ao adoecimento. Como nos diz Maslow: “Nós não adoecemos só por conflitos, nós adoecemos também por reprimir o amor, reprimir a nossa manifestação, a nossa expressão saudável”. Mas, mesmo nesta situação, a Fonte da vida está presente nos inspirando e guiando com amor.


Referências bibliográficas: Franco, Divaldo – Refletindo a Alma, A Psicologia Espírita de Joanna De Ângelis, Salvador, Livraria Espírita Alvorada Editora Saldanha, Vera – Psicoterapia Transpessoal, SP, Ed. Rosa dos Tempos Weil, Pierre – A arte de viver a vida, Brasilia, Ed. Letrativa Weil, Pierre – Os mutantes, Ed. Verus

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